quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Necessidade da Arte.

É comum ouvir, até mesmo de grandes artistas, que a arte é desnecessária e, por isso mesmo, importante. Ou seja: justamente por não ter uma serventia imediata, a arte desempenha o papel de nos lembrar de que a vida é mais que trabalho e consumo, etc. e tal. Mas, embora possa entender esse tipo de conceito, acho que é pouco. A arte tem “utilidade”, sim, e a prova disso é a mudança que ela pode causar na vida de quem a considera mais que um passatempo, de quem não a confunde com chutar bola ou ir ao restaurante.

Em primeiro lugar, a arte pode ser conhecimento. Grandes escritores, pintores e músicos estavam preocupados em entender um pouco mais das sutilezas e riquezas disso que se chama “natureza humana”. Muito antes de haver psicologia, sociologia ou ciência política, as artes já tratavam de questões que até hoje essas disciplinas estudam. Que seria de Freud sem Shakespeare? De Maquiavel sem Sófocles? De Raymundo Faoro sem Machado de Assis? E é por isso que, conhecendo as artes produzidas em outros lugares e/ou épocas, podemos conhecê-las de modo muito mais íntimo, concreto, do que os historiadores até hoje nos permitem conhecer.

Em segundo lugar, a arte, tanto para quem a faz como para quem a consome, é um meio de expressão único. Basta ler as histórias do dr. Oliver Sacks para ver como uma atividade artística pode ser essencial no equilíbrio de uma mente, mesmo quando clinicamente instável. E quem tem uma vida cultural intensa – costuma ir a cinema e teatro, comprar discos e livros, visitar museus – sabe como essas coisas passam a se tornar imprescindíveis, por mais baixo que seja ou esteja seu orçamento. Pois arte, além de conhecimento do mundo em que vivemos, é autoconhecimento, é descoberta ou transformação de nossas próprias emoções e idéias, de nossas reações a esse mundo.

Como resultado, a arte nos faz mais inteligentes, mais capazes de intuições e decisões, de perceber o comportamento dos outros e administrar o nosso próprio. Ao contrário de drogas, bebidas, “adrenalina” (venha da violência, venha inclusive dos esportes) e até mesmo do amor exagerado, uma vida cultural não cria obsessões, não nos fecha para outras realidades; ao contrário, se praticada por prazer e com determinação, ela abre a cabeça – e a preenche – como nada mais. Logo, arte não rima com modismo e preconceito, apesar de tantos “moderninhos” agirem assim.

Felizmente, muitas pessoas hoje estão se cansando das cada vez mais numerosas artes falsas, diferenciando cultura e propaganda, abandonando as idéias simplistas sobre o que é “vanguarda” e o que não é. E estão entendendo que passar algumas horas da semana lendo ou consumindo arte, em vez de ver TV demais ou ir para bares e lojas sem realmente precisar, é que é necessário.

Por Daniel Piza, Revista Classe Executive A, p. 22, ano 2003.

Um comentário:

  1. Adorei o comentario sobre Arte, acredito sim no fortalecimento que isso promove em nossa cultura, em nossa mente e em nossa atitude perante o que entendemos sobre a Vida.

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